A Trajetória Inspiradora de Glelany Cavalcante
Em 2015, com apenas 200 euros na conta – cerca de R$ 1,2 mil na cotação atual – e um grande sonho, Glelany Cavalcante embarcou para a Europa em busca de uma carreira como modelo. Dez anos depois, a baiana de Feira de Santana conquistou o título de Miss Universo Itália, vencendo um concurso com 44 candidatas e garantindo sua vaga para representar o país no Miss Universo global.
Glelany, que cresceu em uma família humilde e é filha de pais divorciados, deixou a Bahia ainda jovem, aos 13 anos, para morar com o pai em Brasília. Aos 15 anos, enquanto passeava por um shopping na capital federal, ela foi descoberta por uma agência de modelos. "Eu estava muito insegura. Ser modelo nunca foi um dos meus objetivos, e eu tinha uma autoestima muito baixa. Mesmo assim, aceitei a ideia como uma brincadeira", relembra.
Durante a infância, Glelany sofreu bullying e enfrentou transtornos alimentares na pré-adolescência, o que a impedia de sonhar com uma carreira nas passarelas. No entanto, ela aceitou o convite da agência e, com o dinheiro arrecadado em um churrasco familiar, pagou pela sua primeira sessão de fotos e pelo curso preparatório. "Foi ali que comecei a me sentir mais confiante. Literalmente desabrochei e descobri uma paixão", diz ela.
Esse primeiro investimento trouxe resultados rápidos: Glelany conquistou o segundo lugar no Miss Distrito Federal em 2012, aos 18 anos. Mesmo com o sucesso inicial, ela deixou o sonho de ser modelo em segundo plano para focar na faculdade de Direito, conciliando os estudos com um emprego de recepcionista em um hospital de Brasília.
A grande virada em sua vida aconteceu em outra caminhada despretensiosa pela cidade. Acompanhando uma amiga a uma seleção de modelos para uma agência de Milão, Glelany chamou a atenção dos agenciadores. No entanto, ela não atendia às exigências de medidas da Semana de Moda de Milão. Eles propuseram que, se conseguisse emagrecer em dois meses, ela poderia tentar a sorte na Itália. E foi o que ela fez.
"Cheguei na Itália com 200 euros no bolso e um sonho", brinca Glelany. Sua determinação logo rendeu frutos. A baiana trabalhou com grandes marcas de moda e beleza, desfilou com um vestido bordado à mão com 5 mil cristais, uma peça que entrou para o Guiness Book, e consolidou sua carreira no competitivo mercado europeu.
Glelany decidiu permanecer na Itália, onde vive há nove anos. Além de ter conquistado a cidadania italiana, devido à ascendência de seus bisavós paternos, a modelo também se casou com um italiano e construiu uma nova vida no país.
Até recentemente, Glelany não imaginava que poderia participar do Miss Itália, devido às antigas regras que impediam a participação de mulheres casadas ou com mais de 28 anos. Porém, as mudanças implementadas em 2024 abriram as portas para que ela concorresse. "Para mim, o papel de uma miss vai além da beleza. A beleza é uma vitrine que nos permite comunicar coisas importantes e ser exemplo para outras mulheres e meninas", afirma.
Apesar de representar o estado da Sicília, uma região conhecida por suas praias deslumbrantes e rica gastronomia, Glelany encontrou desafios ao longo de sua trajetória. Enquanto italianos criticavam o fato de ela não ter nascido na Itália, brasileiros alegavam que ela teria "renegado suas origens". No entanto, a modelo responde com sabedoria: "Uma das minhas bandeiras é combater a ignorância. A imigração faz parte da história da humanidade, e a pluralidade cultural é uma riqueza. Eu trago toda a minha essência baiana junto com a italiana que adquiri aqui".
Agora, conhecida como "from Bahia" no meio da moda, Glelany se prepara para disputar o título de Miss Universo global no México, no dia 16 de novembro. Para ela, essa jornada é a consagração de uma década de esforços e superação, desde os primeiros passos dados com pouca certeza e recursos, até a realização de seus maiores sonhos.
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